26 January 2016

9 motivos para sair correndo do Brasil enquanto ainda há tempo


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Não, isso não é apologia à pratica de atividades esportivas na fronteira do Brasil, é uma análise transparente e apartidária que compila em forma de alerta o que todos parecem já saber em menor ou maior grau.

Afinal de contas o que faz com que tantos se cansem de um país tão privilegiado pelo clima, culinária, recursos naturais, paisagens inebriantes e um povo de energia tão especial?

Assassinatos

880.386 pessoas morreram por disparo de arma de fogo entre 1980 e 2012 no país do futebol. O equivalente a 11 estádios do maracanã completamente lotados!

Em nenhum país morrem mais pessoas dessa forma do que no Brasil. Em 2012, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), foram 64.357 mortes. Para se ter uma ideia, os 12 maiores conflitos no globo entre 2004 e 2007 mataram juntos 170.000 seres humanos. No Brasil, entre 2008 e 2011, mais de 200.000 pessoas perderam a vida vítimas de assassinato. Desses crimes, quase 90% ficam sem punição.

Mesmo com tanta impunidade, ainda assim o Brasil possui uma das maiores populações carcerárias do mundo. Uma bomba-relógio pronta a explodir. Seja pelo custo financeiro ao país, seja pelo risco de violência e constantes violações dos Direitos Humanos.

Um balanço de todo o período coberto pela série histórica do Mapa da Violência revela que 880.386 pessoas morreram por disparo de arma de fogo entre 1980 e 2012 no país do futebol. O equivalente a 11 estádios do Maracanã completamente lotados!

A taxa de homicídios entre jovens (dados de 2010 – OMS e Census) é de 54,7 jovens por 100.000 habitantes. Não parece muito? No México, país conhecido pela violência, é de 28,1. Quase a metade. Na Rússia é de 8,8. Na vizinha Argentina, de 7,7. Em Israel 2,3. Na Itália 0,8.

Dinheiro vale menos

No Brasil, quase sempre, os produtos e serviços são mais caros do que a média mundial.

Um exemplo dessa realidade é o famoso BigMac Index, índice criado pela conceituada revista The Economist, que compara o preço do mais famoso sanduíche do Mc Donalds ao redor do mundo: o último levantamento é de julho de 2015.

Nele o Brasil aparece como o país mais caro de todo o Hemisfério Sul e o 8º mais caro do mundo, atrás apenas de países nórdicos, da Suíça, do Canadá, Inglaterra e Israel, onde os salários são no mínimo cinco a seis vezes superiores ao Brasil (os EUA não estão incluídos pois são o marco de referência).

Os absurdos são generalizados e estão presentes em produtos tão simples quanto um panetone (pão natalino), que no Brasil custa mais caro (R$25,12) do que exatamente o mesmo produto depois de importado e vendido no Japão (R$21,35), até sofisticados computadores apple (MacBook Pro de 15″ Retina, top de linha) que custam R$ 23.499, enquanto um carro novo (Fiat Palio Fire 2 portas) custa R$27.340.

Salário Mínimo

Veja a comparação em diversas capitais pelo mundo, em países mais e menos desenvolvidos. O poder de compra do salário mínimo brasileiro, apesar de estar no maior patamar dos últimos 50 anos, permanece baixíssimo.

Tomemos como exemplo o número de ordenados necessários para pagar o aluguel de um apartamento de 85m2 em área nobre de uma capital: fica fácil perceber a discrepância entre o Brasil e a maioria do resto do planeta.

Em Madrid, na Espanha, um trabalhador desembolsa 1,42 salários mínimos para pagar o aluguel de um apartamento desse gênero. Já os vizinhos argentinos, gastam cerca de 1,76 em Buenos Aires. No Brasil, na capital Brasília são necessários 6,59 salários mínimos, mais de 3x a média da amostragem – no Rio de Janeiro, por exemplo, a diferença seria ainda mais acentuada.

Juros altos

O brasileiro tem de pagar legalmente ao banco taxas que em um país europeu nem um agiota consegue praticar.

A taxa selic (taxa de juros básica da economia) no Brasil está em 14,25% ao ano, ou seja, o maior juro real do mundo. Quando isso se reflete nas taxas praticadas ao cidadão comum, em forma de crédito para pagar o cartão, a casa própria ou um cheque especial, os números pioram significativamente.

Tomemos como exemplo o cartão de crédito: o brasileiro está sujeito a uma taxa média de juro anual de 403,5%.

Para o leitor ter uma ideia do quão absurdo isso é, veja um exemplo prático: na Europa, em um país como Portugal, essa mesma taxa está em cerca de 17%. Faça as contas: isso significa que se você não pagar uma fatura no valor de 10.000 reais, doze meses depois, você estará devendo (só em juros) mais de 40.000 reais. Com o juro praticado em Portugal por exemplo, estaria devendo 11.700.

É importante ressaltar que não se trata de uma comparação injusta entre um país sul-americano e um europeu. Tomemos como base nossos vizinhos: na Colômbia, que possui a maior taxa de juro depois do Brasil, são 63% (taxa de crédito rotativo no cartão). No Peru 41%. Na Argentina 37%. No Chile, 26%.

Discrepâncias similares se repetem para outras formas de crédito como o pessoal e o imobiliário. A realidade é que o brasileiro tem de pagar legalmente ao banco taxas que em um país europeu nem um agiota conseguiria praticar. Na prática, isso significa afastar da realidade de muitos, a possibilidade de ter um automóvel, uma casa própria, ou abrir o seu próprio negócio.

Corrupção

A economia da corrupção no brasil é superior à soma de toda a riqueza produzida num país como moçambique.

Os escândalos de corrupção no Brasil são de tal forma vastos, rotineiros e atuais, que é mais fácil abrir o jornal do dia do que ler nesse artigo uma seleção de alguns, provavelmente já ultrapassados por novos ainda maiores.

Para se ter uma ideia, um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) revelou que os prejuízos econômicos e sociais que a corrupção causa ao país somam cerca de 69 bilhões de reais por ano.

Isso é um valor superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de um país inteiro como Moçambique (hoje estimado em pouco mais de 15 bilhões de dólares). Ou seja, a economia da corrupção no Brasil é superior à soma de toda a riqueza produzida num país. Faça as contas e imagine o que poderia ser feito com esse dinheiro.

Educação

Há muitos motivos para um país não prosperar, mas nenhum é tão poderoso e afirmador dessa realidade no tempo que a educação.

A remuneração dos professores no Brasil é uma das piores do mundo. Como não poderia deixar de ser, o desempenho dos alunos também. Segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico), o salário médio dos professores brasileiros de ensino fundamental é cerca de um terço da média dos restantes países.

27% dos brasileiros acima de 15 anos são analfabetos funcionais. Isso significa que uma a cada quatro pessoas no Brasil reconhece letras e números, mas não sabe bem o que fazer com eles. São incapazes de interpretar um texto simples por exemplo.

Enquanto as estimativas da OCDE indicam que, na última década, metade do crescimento econômico nos países desenvolvidos foi devido a habilidades melhoradas em educação, o Brasil se encontra próximo ao último lugar (38ª posição dos 40 países participantes) no ranking da educação (The Learning Curve 2014), junto de países como Tailândia, Indonésia e Colômbia.

Não é possível haver inovação, escolhas políticas mais conscientes, e criação de uma classe média independente e produtiva sem educação.

A pior parte é que não é por falta de dinheiro: o Brasil é o 3º país do mundo que mais investe nesse setor. Em 2015 o investimento em educação irá representar 19,2% do orçamento de Estado, na frente de países como Coreia do Sul, Suíça e Estados Unidos. São mais de 100 bilhões de reais (25 bilhões de dólares) anuais.

Alimentos

Em 2009 o Brasil ultrapassou a Argentina se tornando o 2º maior produtor de alimentos transgênicos do mundo. São mais de 21 milhões de hectares de plantações de alimentos geneticamente modificados.

Em abril desse ano o plenário da câmara dos deputados aprovou uma nova emenda para acabar com a exigência do símbolo da transgenia nos rótulos dos produtos com organismos geneticamente modificados (OGM), liberando assim o caminho para esse tipo de alimento aumentar exponencialmente nas mesas dos brasileiros.

Na altura o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) declarou: “Acho que o Brasil pode adotar a legislação como outros países do mundo. O transgênico é um produto seguro”. Felizmente o Senado acabou por reprovar essa tentativa de emenda à lei brasileira. O lobby e a pressão econômica entretanto só aumentam. Enquanto isso um dos países mais desenvolvidos do mundo, a Dinamarca, acaba de banir os transgênicos e impor por lei que 100% da sua agricultura será orgânica (biológica).

O brasil é também recordista no uso de agrotóxicos.

Impostos

Em 2015, o brasileiro trabalhou 151 dias, cinco meses completos, somente para pagar impostos, taxas e contribuições destinados ao governo, segundo dados do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação). Este número quase dobrou, quando comparado às décadas de 70 e 80.

O país ocupa a 8ª posição do ranking mundial, atrás apenas da Dinamarca (176 dias), França (171), Suécia (163), Itália (163), Finlândia (161), Áustria (158) e da Noruega (157). Em todos esses países, saúde, segurança e educação pública são de alta qualidade e acessíveis a toda a população. Será que é o caso do Brasil?

Tendência

É importante lembrar que apesar de toda a instabilidade atual, o país ainda goza de alguns estímulos e condições especiais que o favorecem, mas que são temporários.

Ter sediado o mundial de futebol significou receber bilhões de dólares na economia nos últimos anos. Os Jogos Olímpicos em 2016, embora concentrados no Rio de Janeiro, também têm impacto indireto em toda a economia, levando em consideração a promoção extra do turismo nacional nos últimos anos.

O famoso privilégio do bônus demográfico, fenômeno que favorece economicamente um país jovem como o Brasil, que possui uma classe trabalhadora que contribui para a segurança social ainda muito superior ao número de aposentados e pensionistas que recebem o benefício, pode estar no fim do seu ciclo. Segundo Samuel Pessoa, pesquisador da (Ibre/FGV), o Brasil já gozou de 90% dos efeitos do bônus demográfico. Daqui a cinco ou seis anos, o país entrará em outro momento, no qual terá que gerir desafios crescentes nos déficits da previdência social, tendo que cada vez mais ir buscar dinheiro da balança comercial e onde mais for possível, para financiar o crescente número de aposentadorias.

Conclusão

Não está aqui em causa enumerar cegamente problemas como se todas as outras nações não tivessem os seus, mas lembrar que para tudo há limites, que o Brasil está ultrapassando todos eles, e que a única chance de isso melhorar é que todos estejam plenamente cientes da realidade.

Esse artigo não tem por objetivo esclarecer todos os problemas, muito menos todas as soluções de uma nação grande e complexa como o Brasil.

Isso não é um convite para que todos façam as malas. A metáfora aqui proposta é a necessidade de se abandonar o mais rápido possível essas práticas de um Brasil que maltrata seu coletivo para que seja possível redescobrir a essência do povo brasileiro.

Enquanto isso não acontece, e toda essa loucura não é percebida como tal, seguimos tratando barbáries dignas de parar qualquer país como apenas mais uma notícia do telejornal.

José Padilha, o aclamado diretor da série cinematográfica Tropa de Elite recentemente declarou em uma entrevista onde explicava por que decidiu sair do país:

“O Brasil perdeu a sensibilidade para o absurdo” — José Padilha.

O que poderia melhor descrever um país capaz fazer uma detenta grávida, aos gritos, ter que parir sozinha o seu próprio filho, numa solitária de prisão, em completa escuridão, sem qualquer apoio, ou tratar com normalidade assaltantes adolescentes passarem a roubar bicicletas esfaqueando o seu dono até a morte? Isso não são fatos isolados escolhidos a dedo. São alguns dentre as dezenas que acontecem todos os dias. Isso é o Brasil de hoje.

Fonte: Conexão Lusófona

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