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Nos últimos meses, a perspectiva de solução para algumas grandes questões como previdência, déficit público levaram a uma queda do dólar em relação ao real. No final de janeiro, o dólar chegou a superar o patamar de R$ 4 e, a partir daí, caiu até situar-se por volta de R$ 3,15. Esta queda na cotação alimenta novamente um debate frequente na discussão de economia no país: afinal, a valorização do real é boa ou ruim para a economia brasileira?
A reposta desta pergunta só poderá ser dada ao responder outra questão: o que é melhor para a recuperação da economia brasileira? Uma alta do real que ajude o Banco Central a controlar a inflação, abrindo espaço para a redução da taxa de juros, ou uma depreciação cambial que dê apoio às exportações e a substituição de importações pela indústria?
Os defensores da tese de que um real mais forte prejudica a atividade econômica ressaltam a importância deste segundo ponto: a desvalorização do real permite a substituição de importações, que encarecem, e reforça exportações, uma vez que o produto nacional se torna mais competitivo no exterior. Assim, a desvalorização cambial leva a uma recuperação da economia brasileira puxada exportações de produtos industrializados.
Mas no Brasil é o mercado interno que puxa o crescimento econômico – assim, um real mais “barato” pode ser negativo para a economia. Isso porque a depreciação cambial pressiona a inflação, corrói a renda real do trabalho e, ao impor uma política monetária mais apertada – em outras palavras, juros mais altos – afeta a demanda interna. É verdade que as contas externas (a diferença entre o valor das exportações e das importações) melhoram ao longo do tempo. Mas isso não é motor de crescimento para um país fechado como o Brasil e com maior peso da demanda interna na dinâmica econômica.
Parte de nosso passado recente ilustra bem essa dinâmica. Entre 2003 e a eclosão da crise global de 2008, houve expressiva valorização do real e, ainda assim, a indústria acompanhou o ritmo de crescimento da produção industrial mundial. O câmbio prejudicou as contas externas, mas não impediu o crescimento econômico, pois o aumento da demanda interna mais que compensou o aumento das importações e a redução das exportações. A apreciação cambial, por outro lado, reforçou a trajetória de queda da taxa de juros ao contribuir para a uma dinâmica inflacionária bem-comportada. Há razões para acreditar que o efeito líquido do real valorizado foi positivo para a atividade econômica.
Além disso, a tese de que o câmbio pode ser artificialmente mantido em patamar baixo não parece ser crível. Ao contrário, estudos do Banco Central mostram a baixa eficácia de suas intervenções para controlar a taxa de câmbio. A análise do período de 2003 a 2008 é mais uma vez interessante para entender este ponto. Neste intervalo de seis anos, as reservas do BC passaram de US$ 49,296 bilhões para US$ 206,806 bilhões sem afetar de grande forma a trajetória de alta do real – em 2003, o dólar estava cotado em R$ 3,52 e encerrou 2008 a R$ 2,34.
Enfim, é equivocado esperar uma solução para o “problema” da queda da cotação do real, seja porque a ação do BC não é capaz de influenciar fortemente o mercado de câmbio, seja porque, caso estejamos em um novo ciclo de apreciação mais longo, isso não seria algo ruim para a volta cíclica do crescimento. As evidências indicam que ajudar o BC a relaxar as condições monetárias com segurança é bem-vindo. Forçar uma depreciação da moeda não parece ser o remédio milagroso para a recuperação econômica.
Post em parceria com Rafael da Silva Gonçalves, graduando em Economia pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Júnior de Economia (www.cjefgv.com)
Fonte: Blog de Economia – Samy Dana
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