10 August 2015

Dinheiro para time de Kaká vale green card para brasileiros


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Dono do Orlando City, o empreendedor brasileiro Flávio Augusto da Silva (esquerda) contratou Kaká

Torcedor da Portuguesa de Desportos, o empresário Carlos Fonseca dá risadas sobre a ironia de ter feito um investimento, cujo principal garoto-propaganda é Kaká, ídolo do rival São Paulo. Mas a paixão esportiva ficou em segundo plano, diante do projeto de se mudar com a família para os Estados Unidos.

Na última quinta-feira, Fonseca, de 36 anos, acertou os detalhes da compra de uma das 99 cotas de US$ 500 mil (R$ 1,75 milhão) com as quais o Orlando City, única representante do Estado da Flórida na Liga Americana de Futebol (MLS), e que conta com os serviços do último jogador brasileiro a receber o prêmio de melhor jogador do mundo, em 2007, vai ajudar a financiar a construção de um novo estádio.
Além de mimos como assentos permanentes e ingressos a granel, Fonseca, a mulher e os dois filhos do casal receberão o cobiçado green card.

Linhas ocupadas

Sonho de consumo de quem tem planos de migrar para os Estados Unidos, o visto de residência permanente historicamente é um documento difícil de ser obtido. Mesmo o ex-Beatle John Lennon “penou” para conseguir o seu nos anos 70, quando trocou Londres por Nova York e esteve sob ameaça de deportação.

Nos últimos anos, porém, a rota ficou mais fácil para quem tem contas bancárias mais vastas, graças a um programa especial de concessão de vistos do governo americano, o EB5 – conhecido como o “visto de investidor”.

Em troca de investimentos de pelo menos US$ 500 mil em projetos que gerem pelo menos 10 empregos, as autoridades americanas concedem o green card.

O sistema existe há mais de 10 anos, mas parece ter sido descoberto apenas recentemente por interessados brasileiros. Algo reforçado pelas estatísticas do Departamento de Imigração dos EUA: dos 14 mil vistos EB5 já emitidos para países da América do Sul, por exemplo, apenas 440 foram para brasileiros.

Mas de acordo com Gonzalo Jordan, o advogado especializado em imigração que criou o programa de venda de cotas para a construção do estádio, a turbulência econômica e política no Brasil fez o interesse disparar.

“Mesmo antes de lançarmos oficialmente o programa, na segunda-feira, já tínhamos dois terços das cotas reservados. E em quase todos os casos, os interessados são brasileiros”, explica Jordan à BBC Brasil.

O advogado conta que, nos últimos anos, o interesse de potenciais clientes brasileiros pelo EB5 multiplicou-se, mas que houve um salto no número de consultas desde a reeleição da presidente Dilma Rouseff. “Na semana da eleição, recebi pelo menos 150 ligações do Brasil”.

Uma delas foi de Fonseca. À frente de uma distribuidora de bebidas em São Paulo, o empresário diz que o resultado eleitoral, aliado às dificuldades na economia brasileira, fez com que ele perseguisse o que chamou de “um sonho”.

Kaká

“Fiz intercâmbio nos EUA quando era adolescente e sempre tive vontade de um dia morar lá. Acho que os EUA darão mais oportunidades educacionais para meus filhos e também um pouco mais de segurança. Investir num projeto de futebol num mercado em crescimento como os EUA oferece boa chance de retorno. E Orlando é um lugar com oportunidades. Quero abrir um restaurante brasileiro”, explica Fonseca.

Se Miami ainda é a cidade da Flórida que mais concentra investimentos e população de imigrantes brasileiros (há entre 250 mil e 300 mil vivendo no estado, segundo estimativas extra-oficiais), Orlando também é um destino “quente” por conta da presença de parques temáticos como a “Disney World”, ao ponto de, segundo um recente levantamento da Organização Mundial do Turismo (OMT), ter se tornado a cidade mais visitada por brasileiros em todo o mundo.

Para o empreendedor brasileiro Flavio Augusto da Silva, a cidade ofereceu oportunidades suficientes para o desenvolvimento de um projeto mais ambicioso no futebol, esporte que nos Estados Unidos é majoritariamente acompanhado pela população de origem hispânica.

Em 2012, ele comprou 87% das ações do Orlando City e passou um ano convencendo as autoridades municipais a apoiar o projeto para que o time se tornasse o primeiro do sudeste americano a disputar a MLS, com um projeto encabeçado pela contratação de Kaká. No projeto de Silva, o clube também poderia se transformar numa atração extra para brasileiros de passagem ou residentes na região, ainda mais depois que os planos de criação de um time em Miami terem “empacado”, apesar do apadrinhamento do ídolo inglês David Bekcham.

“O futebol está crescendo nos Estados Unidos. Temos o potencial de criar uma marca global aqui, mas queremos ser o segundo time dos torcedores brasileiros, tanto que o nosso uniforme é roxo, justamente uma cor que nenhum clube brasileio usa”, brinca Flávio.

Gonzalo Jordan acredita que o interesse dos brasileiros pelo esporte ajuda a tornar o projeto de investimento no estádio ainda mais atraente. “É uma maneira VIP de migrar e que também oferece oportunidades de negócios. As cotas, na verdade, são um tipo de empréstimo que depois vai se transformar em um tipo de participação acionária no estádio”.
Ao que tudo indica, um investimento tentador para brasileiros insatisfeitos.

“Já havia algum tempo que queria emigrar, mas a minha família se opôs, meu pai, principalmente. Com os problemas econômicos, não houve como ninguém reclamar”, afirma Fonseca.

Fonte: BBC Brasil.


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